Milton tem 28 anos e trabalhava em uma empresa. Sofreu um acidente de moto, precisou cirurgia e colocou dois parafusos em uma perna. Recuperado, voltou ao trabalho, mas exigiram mais agilidade na sua função. Alegando que não podia por causa da perna, foi sugerido que pedisse demissão. Com a consciência mostrando que estava predicando a empresa, ingenuamente pediu demissao, sem buscar seus direitos.
Ele tem 4 filhos: Kauan, Juan, Pietro e Agata. O mais velho tem 9 anos e a mais nova tem 4. Moram em uma casa emprestada, na Rua Fernandes Vieira, 200. Seus filhos estudam na Escola Pão dos Pobres.
O trabalhador tem o piso nacional de R$ 954 e no Rio Grande do Sul o piso é de R$ 1.175,15.
Com esses salários, ou pouco mais, precisam sustentar suas famílias. Todos eles pagam impostos. Quando compram leite, pão etc, já pagam o imposto embutido que o governo arrecada para aplicar em educação, saúde, segurança etc. Com esses recursos, o governo mantém escolas públicas e unversidades, onde muitos de nós estudamos. Todos os que estudarem em universidades públicas são frutos também do que Milton e os trabalhadores pagam.
Aqueles que tiveram oportunidades de estudar, formar, prestar concursos públicos, galgar altos cargos, além dos benefícios da sociedade e dos seus esforços, receberam, gratuitamente, dons de Deus que souberam aproveitar.
Todos os que recebem altos salários e altas aposentadorias são frutos de estrutura injusta, inexistente em países desenvolvidos.
As vantagens recebidas como planos de saúde, auxílio-moradia, deslocamentos em veículos especiais são privilégios de determinadas categorias. Como podemos viver em uma sociedade com tantas diferenças? Somos humanos e temos que nos colocar no lugar dos pobres e sofredores.
Os trabalhadores que precisam se deslocar até seus locais de traballho sofrem um desconto de 6% no salário, que lhes faz muita falta no fim do mês.
Existem pessoas que desfrutam de até quatro aposentadorias. Um ex-governador, com 4 aposentadorias, declarou, na TV, isso ser legal. Sabemos que é legal, mas é imoral.
É questão de consciência olharmos para Milton e para a grande maioria dos trabalhadores, que diariamente constroem esse país, e com seu trabalho colaboram para construir escolas, hospitais e universidades e dificilmente desfrutam desse benefício.
O Brasil que desejamos deve ser construído com amor, para que todos tenhamos uma vida digna.
Daqui só levamos o amor que doamos para os outros.
Por que auxílio-moradia para determinada categoria? Com seus salários e enquanto estão no Interior teriam condições de adquirir sua moradia.
Vamos pensar no Milton e naqueles que não têm as mínimas condições de ter a sua casa.
A maior injustiça que vejo, hoje, no Brasil, é o reajuste salarial das categorias. Por que o trabalhador recebe reajuste de 1,59% enquanto as outras categorias reivindicam aumentos de até 30% ou mais, deixando, cada vez mais, uma diferença enorme entre o menor e o maior salário? Percentuais de aumento deveriam ser iguais para todos. Se o aumento do trabalhador é de 1,59%, seria justo o mesmo percentual de aumento para todas as categorias.
Não sou contra as diferenças entre as classes, mas gostaria de ver um Brasil onde todos tivessem as mesmas oportunidades e desfrutassem de uma vida digna.